Para seu conhecimento
LIVRO
O escritor que toda a América quer ler

por Michiko Kakutani, The New York Times
26.08.2010

O electrizante novo romance de Jonathan Franzen, "Freedom", evidencia o seu impressionante manancial de ferramentas literárias - toda a destreza para contar histórias, além de imensas tramas - e a sua capacidade para abrir uma grande e updikiana imagem da vida da classe média norte-americana.

Enquanto o primeiro romance de Franzen, "The Twenty-Seventh City", se inspirava em nomes como Thomas Pynchon e Don DeLillo para criar uma imagem negra e espalhafatosa de St. Louis, "Correcções" assinalava a sua determinação em invocar a América contemporânea - não alinhando num épico cartoonesco, mas desconstruindo a história de uma família, para nos dar um retrato global do país.

Nas primeiras páginas de "Freedom", somos apresentados aos membros da família Berglund como se estes fossem um sortido de caricaturas desagradáveis, que perturbam e espantam os seus vizinhos em St. Paul. Conhecido pela sua "delicadeza", Walter Berglund é um marido e pai fraco, passivo-agressivo, que estranhamente vende os seus ideais ecologistas para trabalhar numa diabólica empresa de carvão.

A sua mulher, Patty, parece delicada mas revela-se uma víbora com mau feitio, que se enfurece com Walter e corta inexplicavelmente os pneus de neve novos a um vizinho. O filho adolescente, Joey, é tão infeliz no lar que sai de casa e vai viver com a família da namorada que mora na porta ao lado. Estes sketches grotescos servem apenas para mostrar como é que os Berglund podiam ser vistos por desconhecidos.

Desde o início da sua carreira com "The Twenty-Seventh City" que Franzen tem sido ambicioso, aspirando a escrever um grande romance que possa captar um desígnio nacional, e este livro não é excepção. O título, "Freedom" [Liberdade], anuncia um tema que corre como uma corrente forte na narrativa - muitas conversas sobre o que significa a liberdade em termos de se ser livre de responsabilidades familiares e crenças ideológicas.

Mas não é isso nem o argumento com o twist à Dickens que empresta a este romance a sua importância narrativa e agarra o leitor: são as personagens de Franzen e a sua capacidade à David Foster Wallace de capturar os absurdos da vida contemporânea - onde o planeta está a "aquecer como uma torradeira" e as pessoas utilizam o cartão de crédito para comprar um pacote de pastilhas ou um simples cachorro-quente.

Ao escrever numa prosa que é ao mesmo tempo visceral e lapidar, Franzen mostra-nos como é que as suas personagens se esforçam por navegar num mundo de parafernália tecnológica e costumes sempre em mudança, como lutam para equilibrar a equação entre as suas expectativas de vida e a aborrecida realidade, os seus ideais políticos e a mercenárias necessidades pessoais.

No passado, Franzen tendia a impor uma visão do mundo aparentemente cínica e mecânica às suas personagens, ameaçando torná-las em peões autorais sujeitos aos simples imperativos Freudianos-Darwinianos.

Desta vez, ao criar indivíduos conflituosos e contestatários capazes de escolherem os seus próprios destinos, Franzen escreveu o seu romance mais profundo até à data - um romance que acaba por ser uma convincente biografia de uma família disfuncional e um retrato indelével dos nossos tempos.
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