Para seu conhecimento

Portugal e as eleições no Brasil

Dilma é a mais simpática.
E autoritária. Por isso vai à frente

por Gonçalo Venâncio
30.08 2010
Dilma Rousseff é a mais que provável substituta de Lula no Palácio do Planalto. Conheça os candidatos

"Deus é brasileiro", afiançam os cariocas com o selo da britânica "The Economist" - a propósito das enormes reservas energéticas descobertas no país. Afastando as questões de fé, certo é que se já não há muitos países que se possam gabar de criar postos de trabalho no mais conturbado período económico dos últimos 80 anos, menos ainda são aqueles que criam empregos com tudo e mais alguma coisa, incluindo campanhas eleitorais.

Bem, o Brasil pode: 2010 é ano de presidenciais e municipais e, com a dinâmica política em modo "samba rápido", foram criados nada mais nada menos do que três milhões de postos de trabalho temporários. Quem o diz é o presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos que, na "Folha de São Paulo", fala do empurrãozinho que a política dá á economia.

É por estas e por outras que Dilma Rousseff, a candidata do Partido dos Trabalhadores (PT) e herdeira política de Lula da Silva, é tida pela grande maioria dos eleitores como a melhor candidata para comandar os destinos do Brasil nos próximos quatro anos; 42% dos inquiridos numa sondagem sobre a personalidade dos candidatos ontem divulgada pela "Datafolha" dizem que a petista é a "mais bem preparada", 37% dizem que é "a mais simpática" e, em percentagem idêntica, a "mais autoritária".

José Serra, do PSDB, o grande rival de Dilma na corrida ao Planalto, é visto como "o mais experiente" (51%) e o "mais inteligente" por 36% dos inquiridos. Números que fazem sobressair as diferenças de perfil entre duas das grandes figuras da política brasileira da última década.

Serra, cujo ar cavernoso lhe valeu a alcunha de "Vampiro Anémico" por um conhecido colunista brasileiro, foi construindo uma imagem de credibilidade como ministro da Saúde no governo de Fernando Henrique Cardoso e, mais tarde, como presidente da Câmara e governador de São Paulo. Académico e político de carreira, Serra, 68 anos, vê-se como candidato mais experiente.

Acusa o PT de ter uma visão estatizante para o país e dispara sobre a relação do PT com o regime iraniano. Evitando sempre os ataques directos ao anterior presidente, o "tucano" não é parco na crítica a Dilma ao afirmar que "não precisa de ficar na sombra de ninguém." A sombra é Lula da Silva, verdadeiramente omnipresente nesta campanha. Feitas as contas pelos especialistas, Lula ocupa 27% do tempo de antena de Dilma.

"O Brasil vai continuar a crescer, não tenho a menor dúvida. Penso que o país vai encontrar e aprimorar os seus instrumentos de crescimento qualquer que seja o candidato eleito", disse ontem o embaixador do Brasil em Portugal, Celso Vieira de Souza. Não surpreende, por isso, que seja Dilma a puxar a brasa do desenvolvimento à sua sardinha.

Este ano, a economia brasileira vai avançar 5,5% e, em 2011, o produto interno bruto deverá expandir-se 4,1%. País que empresta o "B" aos leões do crescimento económico, os BRIC, o Brasil de Lula da Silva tem um plano de investimentos de 85 mil milhões de euros em infra-estruturas ao longo da próxima década que, com a organização do Mundial de Futebol e dos Jogos Olímpicos, vão mudar a cara da nação. Lula atribui grande parte do sucesso do seu governo "à capacidade de coordenação" de Dilma, um sucesso também visível no plano social.

Planos de escolarização e erradicação da pobreza melhoraram significativamente o nível de vida dos brasileiros; 78% dos brasileiros consideram-no um "óptimo" ou "bom presidente" e os petistas choram pelo antigo metalúrgico: "Lula, você volta", gritaram num comício em Salvador onde também estava Dilma.

A pouco mais de um mês das eleições de 3 de Outubro, e embalada pela música sertaneja que acompanha a caravana presidencial, Dilma diz estar preparada para ser a primeira mulher a presidir aos destinos do Brasil. As sondagens dizem que pode consegui-lo, logo à primeira volta. O última estudo de opinião do Ibope para o "Estado de São Paulo" dá-lhe 24 pontos de vantagem para José Serra.
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